quinta-feira, 2 de junho de 2011

Ensaio sobre a fofoca



Quem nunca fez uma fofoca que levante a mão!
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Está bem! Pode abaixar a mão todo mundo!
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Comecei fazendo esta gracinha pra dizer que há momentos na vida em que é preciso contar até dez para não perder a cabeça e armar um “barraco”. Uma delas é quando a pessoa se vê envolvida na maior fofoca maldosa, que eu costumo denominar fofoca vermelha (vermelha é a cor da raiva e, pros índios, é a cor da guerra. Tem também a fofoca branca que é só buxixo mesmo e não prejudica ninguém). Ninguém sabe dizer ao certo quem foi que começou dizendo que “a fulana ali fez isso e aquilo”. Os conhecidos olham torto e o burburinho ganha corpo.
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Cada um acrescenta uma informação para deixar a história ainda mais picante. De uma hora para a outra, todas as coisas boas que a pessoa fez na vida são esquecidas e os detalhes maldosos conspiram para aumentar o falatório. Todos dão a sua opinião, muitas vezes se eximindo e se mostrando incapazes (como são inocentes, gente!) de atos como os que constam na fofoca (também muito conhecida por muitos como resenha) em questão, mas ninguém vai a fundo para saber se o que ouviu é a verdade.
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Os fofoqueiros precisam disso para mostrar que são importantes e sabem das coisas. Alguns, principalmente se a fofoca for relacionada a alguém de um nível social elevado, acreditam que a fofoca lhe denota algum status, pois ao saber da vida destes ditos high societies demonstram que estão inseridos num certo contexto social, geralmente diferente do que realmente fazem parte. Há até quem diga que “fofoca foi feita para circular, caso contrário não é fofoca e sim segredo”. A fofoca é geralmente montada usando fatos que não têm nada a ver com a realidade, mas se encaixam com perfeição ao que está sendo contado.
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Bem disse a jornalista e escritora Martha Medeiros: “Quem faz intrigas sobre a vida alheia quer ter algo de sua autoria, uma obra que se alastre e cresça, que se torne pública e que seja muito comentada. Algo que lhe dê continuidade. É por isso que fofocar é uma tentação. Porque nos dá, por poucos minutos, a sensação de ser portador de uma informação valiosa que está sendo gentilmente dividida com os outros. Na verdade, está-se exercitando uma pequena maldade, não prevista no Código Penal. Fofocas podem provocar lesões emocionais. Por mais inocente ou absurda, sempre deixa um rastro de desconfiança. Onde há fumaça há fogo, acreditam todos, o que transforma toda fofoca numa verdade em potencial. Não há fofoca que compense. Se for mesmo verdade, é uma bala perdida. Se for mentira, é um tiro pelas costas."



Qualquer pessoa pode ter sua história contada de várias maneiras e o jeito negativo é uma delas. O triste é que a fofoca, além de ser geralmente motivada por inveja, é uma arma poderosa para distorcer a imagem de pessoas comuns, celebridades e personalidades governamentais, promover dispensa de funcionários em empresas, acabar com casamentos felizes, minar amizades e diminuir a auto-estima de quem é vítima dela. Sabemos que não podemos extinguir a fofoca do mundo e o importante é não entrar numa furada e colaborar para dar corpo a comentários que podem atrapalhar a vida de uma pessoa. Algumas atitudes ajudam a não cair no conto dos fofoqueiros e resenhistas de plantão:
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Procure não falar mal de ninguém. Caso saiba de alguma coisa “interessante” sobre alguém guarde para si. Lembre-se de que um dia alguém pode ficar sabendo de algum deslize seu e pode repetir a injustiça.
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É melhor não saber nada sobre o que os conhecidos estão fazendo de errado. Quanto menos souber, menos a língua vai coçar. Caso a pessoa resolva fazer de você um confessor, não se deixe levar pela curiosidade. Seja assertivo e responda: “Por favor não me conte, porque eu posso passar a informação adiante”.
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Se não der para conter a curiosidade e ficar sabendo mais do que devia sobre alguém, antes de julgar tente averiguar os fatos. Dê uma de São Tomé: “Só acredito vendo”.
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Se o papo for sobre um amigo que você sabe que é uma pessoa que merece confiança, defenda-o com unhas e dentes. Se descobrir depois que estava errado não faz mal, você fez o que se espera de um amigo de verdade.
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Não seja tolo de acreditar que quem está fazendo fofoca sobre uma pessoa não falaria também qualquer coisa maldosa sobre você. Contra maldade ainda não inventaram nenhuma vacina. Cuidado! Existe um provérbio espanhol que diz: "Quem quer que fofoque para você irá fofocar sobre você”.
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E o melhor e mais precioso aprendizado que tive em minha vida e que me fez deixar de ser tão ingênua e crédula na boa intenção, vontade e índole das pessoas: não fale muito da sua vida para os outros, principalmente para os que você acabou de conhecer. Um dia ou outro, por maldade, fofoca, ou fim de amizade (o que os fazem provar que nunca foram amigos de verdade), estas pessoas acabam usando isto contra você. Seja discreta. E siga o sábio conselho do Mário Quintana em seu poeminha Da Discrição: .

"Não te abras com teu amigo
Que ele um outro amigo tem.
E o amigo do teu amigo
Possui amigos também”

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